... Cortes dos EUA já afetam apoio humanitário em Cabo Delgado

ONG que atuam na assistência humanitária e em projetos sociais na província de Cabo Delgado já enfrentam os impactos do corte do apoio financeiro dos EUA. Alguns programas foram encerrados devido à falta de recursos.

DW (Deutsche Welle)

17 de março de 2025

 

 Logótipo da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID)
A administração Trump anunciou um corte superior a 83% no financiamento externo concedido através da USAIDFoto: Celal Gunes/AA/picture alliance

O governo norte-americano, sob a liderança de Donald Trump, anunciou recentemente um corte superior a 83% no financiamento externo concedido via USAID. Moçambique, um dos beneficiários desse apoio, enfrenta agora desafios significativos na manutenção de programas humanitários e sociais em Cabo Delgado, no norte do país.

A Associação de Jovens Promotores da Cidadania Participativa, que promove a coesão social na região, é uma das entidades mais afetadas pela suspensão dos fundos norte-americanos.

Em 2024, a organização implementava o projeto "Círculo de Diálogos", interrompido abruptamente após o cancelamento do financiamento pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).

"Com a suspensão [imposta pela administração] Trump, fomos obrigados a interromper as atividades, pois não conseguimos realizá-las sem financiamento. Atualmente, apenas mantemos ações que não exigem grandes recursos", relata Sumaiya Ibraimo, assistente humanitária da associação.

População vulnerável afetada

O Fórum das Organizações Não-Governamentais de Cabo Delgado (FOCADE), alerta que os cortes da administração norte-americana afetam diretamente a população vulnerável da província.

O presidente do FOCADE, Frederico João, expressa preocupação com a situação. "É devastador. Num momento em que Cabo Delgado, Nampula e parte da Zambézia foram atingidos simultaneamente por um ciclone, o corte da ajuda humanitária pela nova administração norte-americana é extremamente doloroso."

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Além do impacto direto na população carenciada, o corte coloca muitos trabalhadores humanitários em risco de desemprego, alerta Frederico João. "O impacto não se limita aos beneficiários da assistência. Os próprios agentes humanitários, que dependem desses projetos para o seu sustento, também são afetados. Isso significa que, além do impacto humanitário, haverá um efeito social severo com o aumento do desemprego", explica.

Diante da permanência das vulnerabilidades em Cabo Delgado, agravadas pela insegurança gerada pelo terrorismo e por recentes calamidades naturais que desalojaram milhares de habitantes, torna-se urgente encontrar alternativas para compensar a ausência do financiamento norte-americano.

Sumaiya Ibraimo diz ser difícil estabelecer novas parcerias no curto prazo. "Neste momento, estamos de mãos atadas. A maioria das atividades que desenvolvíamos requer recursos imediatos. Como organização sem fins lucrativos, não temos capacidade para sustentar essas ações sem apoio externo."

Novos financiadores

No entanto, o presidente do FOCADE sugere a busca por novos financiadores para reduzir a dependência da ajuda norte-americana. "Temos de tentar esquecer um bocadinho ajuda americana, que é consideravelmente maior em relação aos outros doadores. Devemos explorar por exemplo o apoio da União Europeia e de outras agências de desenvolvimento, como a UKAID, para garantir a continuidade da assistência às populações vulneráveis", defende.

Frederico João também defende que, num cenário de dificuldades, a solidariedade interna deve ser fortalecida e que Moçambique deve procurar aumentar a sua produção para reduzir a necessidade de assistência externa.

Entretanto, a alocação dos fundos destinados à assistência humanitária também é alvo de críticas. O presidente da Associação Kwendeleya, que atua em programas de coesão social, denuncia que parte significativa dos recursos não tem sido efetivamente direcionada às populações necessitadas.

"Muitas instituições acabavam gastando mais dinheiro em custos administrativos do que na implementação dos projetos. Isso comprometeu a efetividade da assistência. O problema não é do governo, mas também das organizações que receberam os fundos e não souberam aplicá-los como deve ser", afirma Abudo Gafuro.

Durante um encontro realizado na sexta-feira (14.03) entre o embaixador dos EUA em Maputo e a ministra das Finanças de Moçambique, a governante alertou que a suspensão dos fundos afetará o equilíbrio da proposta orçamental para 2025.

fonte: https://www.dw.com/pt-002/cortes-dos-eua-j%C3%A1-afetam-apoio-humanit%C3%A1rio-em-cabo-delgado/a-71941008

 


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