... BRASIL: Aconteceu em Brasília o 1º Laboratório Organizacional Feminista para a Sustentação da Vida

Autogestão feminista para a sustentação da vida

Brasília, Brasil, 15/10/2024 - Cfemea

 

Teve início o primeiro 1º Laboratório Organizacional Feminista para a Sustentação da Vida.

A experimentação se estrutura em auto-organização, autogestão, autonomia, e seu pilar central está erguido no autocuidado e cuidado coletivo. A iniciativa que começou em 10 de outubro e segue até 14 de dezembro,  compõe a estratégia de construção de Territórios de Cuidado, Luta e Sustentação da Vida, articulada em parceria entre o CFEMEA e Coletivo de Mulheres do Calafate (Salvador, BA), Coletivo de Mulheres Cuidando e Movimentando Territórios (Rio de Janeiro, RJ), e o MECE – Movimento de Educação e Cultura da Estrutural (Brasília, DF), para cocriar e concretizar alternativas autogestionárias nos próprios territórios periféricos onde estes coletivos estão radicados, vivos, na luta.

Queremos que as mulheres possam sustentar as suas vidas agora, na história do tempo presente para tempos futuros.  Nos territórios brasis, tão profundamente marcados por desigualdades, injustiças e violências, nós nos colocamos o desafio de construir cooperação feminista, com solidariedade, cuidado e reciprocidade - inclusive intergeracionais, para viabilizar melhores condições de nos sustentarmos, cuidando da gente e da nossa casa comum que é a Terra, dando à luta para transformar o mundo e aprofundar nossos próprios processos de autotransformação.

Não é fácil, é uma questão complexa! Afinal, como construir alternativas em cada território entre a coesão que o pertencimento a cada Coletivo ou movimento gera e a cisão que a violência e a exploração promovem?; entre as lutas por emancipação feminista antirracista e as múltiplas formas de opressão que cada uma de nós vive?; entre o autocuidado coletivo e a exploração do nosso trabalho produtivo e reprodutivo?; entre desejos individuais, sonhos coletivos e a realidade?; entre tudo isso, que espaços podemos abrir para concretizar alternativas?

Partimos da certeza de que a sustentação da vida é objetivo a ser alcançado em construção coletiva. Dos lugares coletivos dos nossos territórios, em meio a esta experiência laboratorial, estamos reconhecendo e enxergando, cada vez com maior nitidez, a natureza da nossa coletividade e a potência das experiências das mulheres. Nos encantamos com as vivências e reflexões que realizamos, com tudo que aprendemos umas com as outras, com tantas capacidades de cerzir o que se esgarçou e tecer com cuidado e com tempo os vínculos que sustentam a trama da vida na coragem, com sabedoria, afinco, resiliência e amor.

Em cada um dos territórios, as mulheres têm assumido, na maioria das vezes sozinhas, as tarefas e responsabilidades de cuidado de toda a família, filhos, agregados, idosos, inclusive com outras pessoas da comunidade que estejam em situação ainda mais vulnerável e precária. Quando têm, dividem a renda conquistada de programas de transferência de renda, como Bolsa Família, e dos Benefícios de Prestação Continuada. Muitas, porém, sequer conseguem ter acesso a esses programas ou à Previdência Social. São ainda mais marginalizadas e invisibilizadas. Mas estiveram sem tréguas buscando formas de sobreviver, sempre em trabalhos precários, às vezes insalubres e por vezes até humilhantes, sem qualquer garantia de que poderão obter renda nos dias seguintes. Algumas trabalham de dia para garantir o jantar da noite. É grande o número das que iniciaram empreendimento individual e fracassou, uma, duas e várias vezes. Cada fracasso tem lhes sido imputado como culpa individual, provocando ainda mais malefícios e dívidas.

Ao buscarmos estratégias para a sustentação da vida, temos de denunciar as meias-verdades e falácias do empreendedorismo individual e programas de geração de renda que mantém na invisibilidade a exploração patriarcal e racista das tarefas domésticas e de cuidado realizadas pelas mulheres para as suas famílias e em suas comunidades. A opção que fizemos prima pela cooperação, se recusa a generalizar a concorrência.

Nesta experimentação Laboratorial híbrida, ancorada na Plataforma da Universidade Livre Feminista Antirracista – ULFA, não nutrimos a ilusão de bem-estar ocidental, eurocêntrico, do desenvolvimento capitalista, consumista, patriarcal, racista. Não queremos o progresso predatório da natureza e explorador do trabalho. Não separamos nem submetemos a natureza à sociedade, nem mulheres a homens ou as sexualidades à heteronormatividade, ou negr@s e indígenas aos branc@s; tampouco a reprodução à produção; muito menos o trabalho ao lucro; nem a emoção à razão. Buscamos resistir e cocriar possibilidades de Bem Viver para fortalecer nossas forças vitais e sustentar a vida!


Práticas culturais e escolarização de mulheres em Moçambique

 

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